hidrografia mundial

distribuição

desigualdade no acesso a agua

A quantidade de água no planeta pouco se altera na escala de tempo cronológica que
vivemos, se comparada ao crescimento populacional por ano, bem como à intensificação
das atividades industriais, agrícolas, extrativistas e da produção de energia. Dessa forma, a
disponibilidade de água per capita diminui a cada ano, porém de maneira bastante desigual,
pois países menos desenvolvidos economicamente, os de clima mais seco ou aqueles com
problemas geopolíticos internos têm menor acesso a esse recurso.
A título de comparação, nos Estados Unidos, por exemplo, o consumo médio per capita
de água equivale ao consumo de 29 cidadãos residentes em Angola, país no continente
africano que vive no limiar da pobreza. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS),
cada pessoa, para ter acesso mínimo à alimentação, à higiene e à ingestão de água potável,
precisa de 20 a 50 litros por dia desse recurso natural. O infográfico ao lado mostra que
existem vários países próximos e até mesmo abaixo desse limite. É importante notar que
eles têm em comum a situação de pobreza, subdesenvolvimento econômico e localização na
África, na Ásia e na América. Essa situação implica elevados índices de mortalidade e baixa
expectativa de vida. Contrastando com essa realidade, países com pouca disponibilidade
hídrica natural, mas com grande quantidade de capital disponível, como Arábia Saudita,
Catar e Austrália, conseguem realizar a dessalinização de água do mar, aumentando a
disponibilidade de água, mesmo que a um custo elevado.

Os fatores climáticos exercem grande influência sobre
a distribuição da água pelo mundo. Na região equatorial
do planeta, que possui alto índice pluviométrico durante o
ano inteiro, é comum a existência de grandes reservatórios
de água – como na Amazônia, na região central da África
e no sudeste asiático. Já próximo aos trópicos, devido aos
ventos contra-alísios, que chegam secos da alta troposfera,
é comum a ocorrência de desertos – como os Desertos do
Atacama, do Saara e do Kalahari, além do Oriente Médio,
que é uma extensão do Saara. Contudo, além do fator natural, a presença ou a ausência de água está relacionada à desigualdade social, intensificada
principalmente pelo processo de colonização praticado pelos
países europeus até o século XX em diversas partes do mundo.
Tal processo gerou um desequilíbrio econômico mundial,
intensificado pelo estabelecimento de fronteiras artificiais,
o que acabou se tornando um dos principais fatores para
a instabilidade política em diversas partes do planeta.
Com isso, ao longo da história, muitos países entraram em
conflito, e ainda hoje entram em disputa pelo controle de
recursos hídricos, o que se chama de hidroconflitos.

disputas

O controle de aquíferos, rios e bacias hidrográficas internacionais gera tensão e conflitos em algumas partes do planeta, sendo os mais significativos na África e na Ásia. A água sempre esteve no centro de muitas disputas no passado, e não é diferente no presente. Atualmente, existem aproximadamente 270 aquíferos e 260 bacias hidrográficas internacionais reconhecidas, e o uso de boa parte dessa água é compartilhado, muitas vezes, por mais de dois países, criando focos de conflitos, sobretudo em regiões mais secas ou que passam por estiagens prolongadas. Em alguns casos, divergências em relação ao acesso e ao controle da água desencadeiam conflitos armados, e, em outros, são solucionados a partir de acordos políticos e econômicos.

oriente medio

bacia do rio jordão

As tensões na Bacia do Rio Jordão remontam ao conflito entre judeus e palestinos e às territorialidades estabelecidas em diferentes períodos pelos dois povos na Palestina, região onde se estabeleceu, em 1947, o Estado de Israel e onde se encontram os territórios árabes autônomos de Gaza e da Cisjordânia. Depois da formação do Estado de Israel, contestada pelos povos palestinos e sem os debates necessários entre os interessados, várias guerras aconteceram. Uma delas foi no ano de 1967, denominada Guerra dos Seis Dias, na qual Israel invadiu a Síria e conquistou as Colinas de Golã, nas proximidades da nascente do Rio Jordão. Essa conquista foi estratégica para os israelenses, já que, ao controlar a nascente do rio, é possível controlar o fluxo de água a jusante, criar represas e usar a água para irrigação. Nesse sentido, palestinos denunciam Israel por represar e desviar as águas do Rio Jordão bem acima do limite aceitável, comprometendo a vida e as atividades econômicas de regiões vizinhas. A questão da água tornou-se, portanto, um ingrediente a mais nas questões geopolíticas do Oriente Médio.

bacia do rio dos tigres e eufrates

Bacia dos Rios Tigre e Eufrates, que banham a região da Mesopotâmia. Atualmente, a Mesopotâmia é formada pela Síria, Iraque e a parte oriental da Turquia, onde estão as nascentes dos rios. A Turquia, portanto, controla as nascentes e, desde o final dos anos de 1980, vem colocando em prática o Projeto Grande Anatólia, com a construção de barragens para usinas hidrelétricas e canais de irrigação para suas plantações, com significativo uso e retenção de água dos Rios Tigre e Eufrates. Essas ações levantam protestos de sírios e iraquianos, que temem ter seu abastecimento de água comprometido, em região de clima árido e semiárido.

subcontinente indiano

No subcontinente indiano, destacam-se três tensões
geradas pelo controle da água. A primeira delas é na
região da Caxemira, localizada entre Índia e Paquistão,
nas proximidades do Himalaia. A Caxemira é dividida
politicamente entre indianos, paquistaneses e chineses,
porém, possui maioria muçulmana, e a parte indiana deseja
ser incorporada ao Paquistão. Contudo, a Índia nunca aceitou
ceder esse território devido à sua importância estratégica
no controle a montante do Rio Indo.
Além disso, a Índia envolve-se em dois outros hidro-
conflitos: no Rio Ganges e no Brahmaputra. O caso do Rio
Ganges é singular, pois ele corre em território indiano e
somente sua foz localiza-se em território bengali (região entre
Índia e Bangladesh). Bangladesh sofre com as inundações
no período de verão e com a falta de água no inverno.
Diante disso, um acordo foi firmado com a Índia, em 1997,
garantindo que Bangladesh receba uma quantidade mínima
de água durante o período das monções de inverno.
Já o hidroconflito do Rio Brahmaputra envolve, além
de Índia e Bangladesh, também a China. A nascente é
controlada pelos chineses, na região do Tibete, onde há
algumas hidrelétricas que, segundo indianos e bengalis,
podem alterar a quantidade de água, principalmente durante
as monções de inverno. Atualmente, as questões do uso da
água na região estão relativamente pacificadas, mas existe
o alerta para a região, dado que China, Índia e Paquistão
possuem armas nucleares.

Norte africano

No norte da África, além das tensões envolvidas no compartilhamento da água subterrânea, existem conflitos em relação ao uso da Bacia do Rio Nilo, o segundo maior rio do planeta em extensão, banhando Egito, Sudão, Sudão do Sul, Congo, Etiópia, Quênia, Uganda, Tanzânia, Ruanda e Burundi. No seu processo de independência da Grã-Bretanha, o Egito conseguiu a garantia de que qualquer projeto de uso da água a montante deveria ser aprovado pelo país, já que a nascente do Nilo está fora de seu território e passa por outros nove países antes de desaguar no Mediterrâneo. Mas os países a montante não reconhecem esse acordo, colocando em risco a disponibilidade de água para os egípcios. Egito está em território desértico, e o Nilo é o único rio que percorre o país, os egípcios consideram a água uma questão de segurança nacional.
«Estrutura Cooperativa da Bacia do Rio Nilo», visando estabelecer normas para o uso de suas águas, porém esse acordo não é reconhecido pelo Egito e pelo Sudão, pois esses países desejam maior controle sobre as atividades que usam a água do Nilo, aumentando os conflitos na região.

água Virtual

como ultilizamos?

As atividades agropecuárias são as que possuem maior demanda no consumo de água no processo produtivo. De acordo com estimativas, cerca de 66% da água usada na economia tem como origem as atividades agrícolas (produção de gêneros agrícolas e comercialização). As atividades pecuárias ficam com cerca de 24%, enquanto a indústria utiliza cerca de 10%.
As atividades agrícolas necessitam de muita água, principalmente, para o processo de irrigação. Já a pecuária, de forma indireta, tem alto consumo de água envolvido na fabricação de ração para a alimentação dos animais.

A indústria é quem mais gasta água na produção de seus bens, logo após a agropecuária. Por conta do mercado internacional, muitas vezes um país consome abundantemente a água de outro, especialmente se consideramos a água virtual.

importancia

Nós, como consumidores conscientes de que a água virtual é usada no processo produtivo de tudo o que adquirimos, podemos dar valor e preferir os produtos de empresas preocupadas em alternativas que reduzam o consumo de água e conservem esse recurso. O consumidor sempre dá as fichas e contribui para o direcionamento do mercado.

Na atualidade, temos que utilizar a água potável de forma racional e sustentável. Ou seja, o desperdício de água é preocupante, pois esse recurso natural existe em quantidade limitada em nosso planeta. Dessa forma, atividades e produções que utilizam muita água potável, em seu processo, não estão adequadas às novas necessidades ambientais atuais. As atividades mais sustentáveis e favoráveis ao meio ambiente são aquelas que utilizam pouca quantidade de água potável, ou seja, com o máximo de economia hídrica possível.

conceito

Água virtual é um conceito utilizado para fazer referência à quantidade de água utilizada, de forma direta ou indireta, na produção de algum bem ou serviço. É, na verdade, um indicador da água que será necessária no processo produtivo de algo. Este conceito não se refere a água que utilizamos em nosso dia a dia (para beber, tomar banho, lavar roupa, etc.).
Os cálculos e dados relacionados à água virtual são importantes, pois através deles é possível verificar o impacto ambiental em termos hídricos (pegada hídrica), custos de fabricação de bens e serviços e formas de reduzir o consumo de água nos processos produtivos. Neste último caso, é de grande importância no sentido de garantir o uso racional da água, possibilitando a redução do seu uso.

O conceito de água virtual está se expandindo para outros usos. Ele tem sido usado estrategicamente como instrumento em políticas da água. Um exemplo disso vem sendo empregado no comércio agrícola, que transfere água de algumas regiões com baixo custo para outras onde ela é escassa e cara.

Para o cálculo da água virtual, temos a chamada “Pegada Hídrica”. Pegada Hídrica é uma ferramenta desenvolvida para o cálculo da água necessária para produção de commodities, que representa o volume anual total de água utilizada para produzir os bens e serviços relacionados ao consumo. Este conceito começou a ser utilizado em 2002 como um indicador, para mapear o impacto do consumo humano em recursos globais de água doce.

- Bife de 180 gramas de carne de boi: 2.400 litros
- Bife de 180 gramas de carne de porco: 750 litros
- Copo de leite de 300 ml: 300 litros
- Leite em pó (1 kg) – 4.700 litros
- Par de sapatos de couro: 7.500 litros
- Xícara de café de 125 ml: 135 litros
- Camiseta de algodão (adulto): 1.800 litros