Cultura e Ideologia

1.Primeiras palavras

A palavra cultura tem diversas origens e usos. Entretanto, para a Sociologia, ela é a
base sobre a qual as sociedades humanas constroem seus diferentes modos de vida. É por meio da cultura que buscamos soluções para nossos problemas cotidianos, interpretamos a realidade que nos cerca e produzimos novas formas de interação social.

Lévi-Strauss publica As
estruturas elementares
do parentesco, em que
estabelece as bases da
corrente estruturalista
na Antropologia.
1949

2014
Aprovado no Brasil o Marco
Civil da Internet. A lei criou
mecanismos de proteção ao
usuário e estabeleceu o direito
à comunicação como direito
fundamental do cidadão, e não
apenas como negócio comercial.

Edward Tylor publica
Cultura primitiva,
no qual explicita a
primeira definição
moderna de cultura.

1871

1922
A Semana de Arte
Moderna de 1922 rompe
com o padrão estético da
época, inspirando-se na
vanguarda europeia.

1947
Theodor Adorno e Max
Horkheimer publicam
Dialética do esclarecimento,
em que analisam e criticam
a industrialização da
cultura.

1896
Franz Boas publica “As
limitações do método
comparativo na
Antropologia”, artigo
que critica fortemente
o evolucionismo.

2.Cultura e vida social

Perceber os múltiplos significados e usos da cultura é um dos modos de constatar
sua importância. Em sua origem latina, cultura deriva de colere, que significa cuidar, cultivar, podendo também adquirir um sentido ligado à saúde fisiológica (cuidar do corpo),
à religião (cultuar uma divindade) ou ainda à produção de alimentos (agricultura).

O conceito de cultura e a Antropologia
A disciplina que historicamente mais se dedica ao estudo
da cultura é a Antropologia. Os antecedentes da discussão
sobre cultura se encontram no século XVI, quando as grandes
navegações permitiram que os europeus conhecessem novas
partes do mundo e entrassem em contato com outros grupos
humanos, suscitando debates sobre os hábitos, os costumes e
a produção desses grupos.

Cultura, civilização e determinismo cultural
Entre os séculos XIX e XX, os relatos de viagem e a reflexão filosófica sobre a diversidade dos povos abriram espaço para a reflexão sociológica e antropológica sobre a cultura.
Nesse período, surgiram diferentes formas de hierarquizar as sociedades segundo sua
cultura.

Cultura como juízo de valor e como
produção social

Para entender esses diversos significados, devemos atentar para algumas formas de utilização do termo presentes em
nossa sociedade. A primeira delas é a relação entre cultura e educação. Quando afirmamos que “uma pessoa tem muita cultura”, o termo está sendo utilizado no sentido de educação
formal ou acadêmica.

3.Escolas antropológicas

A Antropologia Evolucionista foi desenvolvida na Inglaterra, no século XIX, especialmente por meio dos estudos de Edward Burnett Tylor (1832-1917). Para Tylor, cultura é “o
todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer
outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”.

Para contrapor-se ao evolucionismo que dominava o pensamento social e político,
a partir do século XIX outros métodos de pesquisa e de análise da cultura foram desenvolvidos. O resultado desse esforço intelectual está presente nas diferentes correntes da teoria social, que têm em comum o reconhecimento da diversidade cultural.

Outra crítica ao evolucionismo foi feita pela escola culturalista, da qual o alemão
naturalizado estadunidense Franz Boas é o principal representante. Para ele, o conceito de civilização deve ser relativizado na medida em que depende dos parâmetros utilizados para considerar as representações. Segundo esse pensador, as diferenças culturais seriam resultado das trajetórias independentes dos grupos humanos

Corrente surgida na virada da primeira para a segunda metade do século XX, a Antropologia Estrutural inspira-se originalmente na Linguística (ciência da linguagem). Para
os estruturalistas, a cultura é um conjunto de sistemas simbólicos (arte, religião, educação) que atua de modo integrado e constitui a totalidade social.

A Antropologia Interpretativa – também chamada Antropologia Hermenêutica ou
Simbólica – confere à história papel diferenciado. Nessa perspectiva, a cultura é um sistema simbólico, uma complexa “teia de significados” tecida pelos próprios seres humanos e da qual estes não podem se libertar.

A rejeição às práticas culturais (e aos grupos ou indivíduos que as praticam) diferentes das culturas dominantes tem sido uma constante em quase todo o mundo. Nas Ciências Sociais, denominamos essa forma de pensar e agir de Etnocentrismo. Etnocentrismo é, por definição, a visão de mundo característica de quem considera sua cultura e seu grupo étnico mais importantes que os demais. Essa visão produz uma avaliação arbitrária do outro. Com base em critérios de sua própria cultura, o Etnocentrismo julga como atrasados ou sem sentido as práticas e os valores culturais de outros
povos ou grupos sociais.

6.Indústria cultural e
meios de comunicação de massa

Na análise das relações entre cultura e ideologia, uma temática relevante para as Ciências Sociais é a discussão das relações entre cultura de massa, indústria cultural e meios de comunicação de massa.

Ela é gerada no interior da indústria
cultural, conjunto de empresas vinculadas à classe
dominante que tem como função “produzir” cultura.

A análise sociológica da sociedade da informação tenta compreender as transformações sofridas pelas sociedades contemporâneas graças ao impacto da revolução digital. A
indústria geradora de serviços e de conteúdos digitais passa a ter importância fundamental na formação de comportamentos e hábitos de consumo.

As tecnologias, bem como a linguagem e as instituições sociais, são parte das construções humanas. Elas são produto da sociedade e da cultura, e tanto sua criação quanto
seu uso constituem nossa própria noção de humanidade. Assim, elas não são neutras, e o desenvolvimento tecnológico se orienta por interesses que podem considerar ou não as desigualdades sociais e os abismos digitais.

5.Cultura e ideologia

A análise dos fenômenos sociais de nosso cotidiano nos permite perceber a mútua
influência entre cultura e ideologia, seja no modo pelo qual os grupos e as classes sociais expressam, em práticas e saberes, sua compreensão e sua trajetória no mundo, seja na forma pela qual essa trajetória é interpretada e valorizada socialmente.

Chamamos cultura erudita as práticas, os costumes e os saberes produzidos pelas elites ou para
elas.

A cultura é produção humana e não pode ser
hierarquizada, pois não é possível justificar qual seria o padrão cultural a ser tomado como critério de
diferenciação. Dizer que determinada prática cultural tem mais valor que outra é afirmar o etnocentrismo.

A cultura popular, por sua vez, refere-se às
práticas, aos costumes e aos saberes que têm sua origem nas classes dominadas ou populares.

4.Ideologia e comportamento social

Na vida social, quando enfrentamos um problema, buscamos soluções para ele. No entanto, as soluções encontradas não são neutras, ou seja, não estão isentas de valores. Todos os indivíduos e grupos sociais possuem interesses diretamente relacionados às ideias que construímos ou que são apresentadas no processo de interação social.

Outra abordagem teórica sobre a temática da ideologia é a do filósofo e político italiano Antonio Gramsci.
Seus estudos procuraram valorizar o papel da cultura no desenvolvimento da luta de classes

Nas Ciências Sociais, o uso do conceito de ideologia está inicialmente relacionado
aos estudos desenvolvidos por Karl Marx. Com base em um debate travado com outros pensadores sobre o desenvolvimento da consciência, Marx, em parceria com Engels, desenvolveu o conceito de ideologia como ilusão ou falsa consciência, em uma série de manuscritos de 1846 que se tornaram conhecidos como A ideologia alemã.

Se pensarmos no exemplo dos trabalhadores utilizado anteriormente, significa que
a classe dominante, ao difundir as ideias sobre o papel dos trabalhadores na questão do desemprego, não tem como objetivo produzir uma falsa consciência da realidade, mas influenciar o modo como esses trabalhadores vão se comportar em seu cotidiano, cobrando mais de si mesmos do que dos seus empregadores ou do Estado. Portanto, a dominação
ocorre também no âmbito das relações culturais.