A surdez
Quem é o surdo?
Reflexões a partir da página 18 - fazer anotações pontuando as principais ideias - compor o texto (artigo).
História dos Surdos: Representações "mascaradas" das identidades surdas
(Karin Lilian Ströbel)
QUADRO COMPARATIVO DAS REPRESENTAÇÕES
Representação de povo surdo
=> "Ser surdo";
=> Ser surdo é uma experência visual;
=> A educação dos surdos deve ter respeito pela diferença linguística cultural;
=> As identidades surdas são múltiplas e multifacetadas;
=> A língua de sinais é a manifestação da diferença linguística relativa aos povos surdos.
Representação social
=> Deficiente;
=> A surdez é deficiência na audição e na fala;
=> A educação dos surdos deve ter um caráter clínico-terapêutico e de reabilitação;
=> Surdos são categorizados em graus de audição: leves, moderados, severos e profundos;
=> A língua de sinais é prejudicial aos surdos.
[...] Houve um tempo em que o o sujetio surdo era tratado como um ser "doente" ou "anormal" e "defeituoso".
"[...] porque a linguagem e a inteligência estão muito ligadas, quando tentamos classificar uma pessoa [...], a surdez surge como deficiência do intelecto. [...] o "mudo" do "surdo-mudo" surge não só para fazer referência à mudez, como também à fraqueza da mente.
[...] na realidade, os membros da comunidade dos surdos [...] não são tipicamente isolados, incomunicáveis, desprovidos de inteligência, não tem comportamentos de criança, nem são necessitados, não lhes falta "nada", ao contrário do que poderíamos imaginar. Então porque razão pensamos que lhes falta tudo? Estes pensamentos incorretos surfem do nosso egocentrismo. Ao imaginar como é a surdez, eu imagino o meu mundo sem som - um pensamento aterrorizador e que se ajusta razoavelmente ao estereótipo que projetamos da comunidade dos surdos [...].
[...] o povo ouvinte, quando questiona "quem são os surdos", levantam suposições sobre as representações dos mesmos através de leituras restringidas sobre o mundo dos surdos. Não tendo onde se basear, podem ocorrer algumas suposições distorcidas e errônias.
UM OLHAR SOBRE O NOSSO OLHAR ACERCA DA SURDEZ E DAS DIFERENÇAS
OS ESTUDOS SURDOS EM EDUCAÇÃO: PROBLEMATIZANDO A NORMALIDADE
(Carlos Skliar)
OUVINTISMO E ORALISMO
ORALISMO:
[...] a forma institucionalizada do ouvintismo [...] (p. 15)
OUVINTISMO:
[...] um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e a narrar-se como se fosse ouvinte. Além disso, é nesse olhar-se, e nesse narrar-se que acontecem as percepções do ser deficiente, do não ser ouvinte; percepções que legitimam as práticas terapêuticas habituais.
A educação especial para surdos parece não ser o marco adequado para uma discussão significativa sobre a educação dos surdos. Mas, ela é o espaço habitual onde se produzem e se reproduzem táticas e estratégias de naturalização dos surdos em ouvintes, e o local onde a surdez é disfarçada (p.11).
Três razões que justificam, [...] a necessidade de um movimento de tensão e ruptura com a educação especial:
3° - [...] neste contexto [de educação especial] não são reconhecidos aos surdos - como também aos cegos, aos deficientes mentais, etc. - os multiplos recortes de identidade, cultura, comunidade, etnia, etc. Os surdos são definidos somente a partir de supostos traços negativos, percebidos como exemplos de desvio de normalidade, no pior dos casos, ou de uma certa diversidade, no melhor dos casos (p.12-13).
2° - [o discutível] discurso hegemônico que supõe a existência de uma linha contínua de sujeitos deficientes, dentro da qual os surdos são forçados a existir: o anacronismo de definir um grupo de sujeitos "especiais" que coloca aos surdos, aos deficientes mentais, aos cegos, etc., numa descrição que é, na verdade, descontínua. Isto é, juntos, mas separados de outros sujeitos, dentro de um processo indiscriminado de patologização. [...] revela a necessidade de abraçar outras representações ou configurações mais amplas sobre os sujeitos e seus grupos sociais de pertencimento (p. 12).
1° - [Coloca-se] em suspeita a ideia de que a educação especial seja o contexto obrigatório par aum debate significativo sobre a educação dos surdos, ao menos nos termos e nas concepções que ela promove habitualmente (p.12).
[...] a educação especial [é definida] como um subproduto da educação, cujos componentes ideológicos, políticos, teóricos, etc. são, no geral de natureza discriminatória, descontínua e anacrônica, conduzindo a uma prática permanente de exclusão e inclusão (p.11).
[...] Pode se dizer que a educação dos surdos parece se encontrar, hoje, diante de uma encruzilhada. por um lado, manter-se, ou não, dentro dos paradigmas da educação especial reproduzindo o fracasso da ideologia dominante - movimento de tensão e ruptura entre educação especial e a educação de surdos. Por outro lado, aprofundar as práticas e os estudos num novo campo conceitual, os Estudos Surdos, quebrando assim a sua dependência representacional com a educação especial, e se aproximando dos discursos, discussões e práticas próprias de outras linhas de pesquisa e estudo em educação (p.11).
Foram mais de cem anos de práticas enceguecidas pela tentativa de correção, normalização e pela violência institucional; instituições especiais que foram reguladas tanto pela caridade e pela beneficência, quanto pela cultura social vigente que requeria uma capacidade para controlar, separar e negar a existência da comunidade surda, da língua de sinais, das identidades surdas e das experiências visuais, que determinam o conjunto de diferenças dos surdos em relação a qualquer outro grupo de sujeitos (p.7).
Nos ultimos 30 anos, um conjunto de discurso e de práticas educacionais que, outras questões, permitem desnudar os efeitos devastadores do fracasso escolar massivo, produto da hegemonia de uma ideologia clínica, dominante na educação de surdos.
O modelo clínico-terapêutico baseia-se numa visão patológica de surdez e um modelo individual de atendimento à diversidade, que tem como referência o Oralismo. O Oralismo é uma filosofia educacional para surdos, cujo discurso propõe a superação da surdez e a aceitação social do surdo por meio da oralização. Em outras palavras este modelo defede o parendizado apenas da Língua Portuguesa na sua modalidade oral e escrita na escola, por entender que esta é a única possibilidade de integrar o surdo na sociedade majoritária ouvinte.
Numa concepção clínica, a surdez é vista como uma patologia, um déficit biológico, e a pessoa surda, como deficiente auditivo e/ou "incapaz" que precisa ser "curado" por profissionais por meio da reabilitação da fala, ou seja, trazido à normalidade para integrar-se à sociedade majoritária ouvinte (SLOMSKI, p. 29-30).
O debate histórico, a cerca da surdez e suas implicações na organização do currículo escolar, geraram dois modelos opostos que subsitem ainda hoje e determinam destinos diversos na vida familiar e escolar das pessoas surdas [...]. O conceito clínico e o conceito social de surdez subsidiam as principais tendências filosóficas-políicas de educação para surdos dentro da área da surdez: filosóficas, porque compreendem o sentido e politicamente, porque constituem um direcionamento para a ação (SLOMSKI, 2011, p. 29).
Deficiência e Diversidade "mascaram e neutralizam as possíveis consequências políticas, colocam os outros sob um olhar paternalista, e se revelam como estratégias conservadoras para ocultar uma intenção normalizadora. A diferença como significação política, é constituida histórica e socialmente; é um processo e um produto de conflitos e movimentos sociais, de resistências às assimetrias de poder e de saber, de uma outra interpretação sobre a alteridade e sobre o significado dos outros no discurso dominante.
Nós surdos somos...
(Gladis Perlin)
... mártires destas jornadas pela diferença, poucos de nós conseguimos pular para dentro do veículo do progresso e com afinco trazer para as páginas de espaços acadêmicos novas posições, novos achados científicos longe daquelas palavras que sustentam a farsa sobre nós e que impôem a dita anormalidade.
[...] Tivemos nossos naufrágios na história, dificilmente alguns de nós viemos a tona. A história nos colocou todos como párias sociais, como deserdados e toda sorte de estereótipos [...] O triste espaço da deficiência foi o alábi para nos manterem "baixas do progresso". Usurparam nossa diferença e disso sequer poderíamos sair pelos cadeados colocados aqui e ali.
... os diferentes dos não-surdos, dos surdos implantados ou dos deficientes auditivos.
[...] cultura. [...] que nos considerem sujeitos culturais e não nos considerem deficientes. [...] pontos de referências culturais [...] lideres surdos, a língua de sinais, a escrita de sinais, história, pedagogia, didática, literatura, artes, etc.
[...] um grupo cultural à parte.
É próprio da modernismo criar uma alteridade para o outro e obrigá-lo a segui-la.
[...] normais com nossa língua de sinais, com o nosso jeito de ser surdos.
Somos um grupo social à parte.
Aquele grupo que Bauman denomina párias da sociedade. O que nos levou a ser classificados como isto, se estamos bem vestidos, comemos em restaurantes de classe... [assim como] qualquer grupo, simplesmente chamada (o) normalidade?
"[...] estamos integrados", como querem alguns e "não-integrados", como falam outros.
Não importa que nos marquem como refugos, como excluídos, como anormais. Importa-nos quem somos, o que somos e como somos. A diferença será sempre diferença.