Aproximando Universidade e Escola de Educação Básica pelas pesquisa

discutir a relação entre a pesquisa e o professor de educação básica a partir de dados de um programa integrado de investigação sobre o tema. A articulação entre ensino e pesquisa na formação e no trabalho do professor da educação básica é algo que há algum tempo tem sido abordado na literatura acadêmica, mas pouco se sabe sobre o seu alcance entre os professores desse nível de ensino.

A concepção do professor como pesquisador, a possibilidade de que ele
desenvolva a prática da pesquisa no trabalho docente, a preparação para essa
prática são questões amplamente discutidas hoje pela comunidade acadêmica,
ao lado e, por vezes, em conjunto com as idéias de “professor reflexivo”, muito
difundidas pela obra de Schön (1983), e a de saber docente, introduzida entre
nós por um artigo de Tardif, Lessard e Lahaye, de 1991.
^

Faz-se necessário oferecer formação sobre
técnicas e conceitos próprios da investigação quantitativa, em nossos cursos de graduação e de mestrado em educação. Mas ainda podemos registrar grande quantidade de “pesquisas” que se limitam a transcrever dados obtidos por entrevistas, ou narrativas de professores sobre suas carreiras docentes ou trajetória de vida ou por observação de seu trabalho em sala de aula, sem cuidar
da análise desses dados à luz de teorias que possam ajudar a esclarecer o problema investigado, estimulando o pesquisador a buscar soluções próprias para
cada caso, com base em recursos disponíveis no acervo de análises teóricas
da área e dos que o próprio pesquisador irá propor

É importante que o pesquisador em educação, se disponha de uma base sólida em uma das disciplinas científicas a ela confluentes, para fundamentar com segurança suas análises teórica.

A PESQUISA E O PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA

L Stenhouse propôs em 1975 que a pesquisa deveria ser a base do ensino dos professores. O alcance desses pensamentos entre nós, assim como os de vários outros autores, tem valorizado cada um. Essa perspectiva é apontada por diversos autores, e até mesmo pela legislação, como algo importante para a preparação e o trabalho do professor.

Pouco se sabe entre nós, no entanto, sobre o que realmente acontece a esse respeito entre os professores desse nível de ensino. Como eles concebem o papel da pesquisa em suas escolas? Que formação receberam e que condições têm para a realizar? Que tipo de pesquisa fazem e como a divulgam?

A primeira etapa da investigação voltou-se para o campo de trabalho do professor da educação básica. Como é vista sua relação com a pesquisa? Interessou-nos saber se no cotidiano das escolas haveria professores realizando atividades específicas de pesquisa, paralelamente às suas atividades de ensino.

Cerca de metade dos professores entrevistados declaram fazer pesquisa. Apesar das condições favoráveis nas escolas estudadas, nem todos os professores entrevistados declararam estar “fazendo pesquisa”. escolas.O fato de participar de um trabalho de pesquisa pode permitir que uma pessoa se sinta conectada a essa atividade e se declare como tal. a autonomia pode então conduzir ao estatuto de investigador, com a correspondente distinção e reconhecimento, sobretudo no meio académico. Em geral, o estudo revela um número razoável de trabalhos que se aproximam do conceito atual de pesquisa.

Os entrevistados afirmam que a preparação da universidade para a pesquisa nega os limites da preparação oferecida atualmente pela universidade. Vários indicaram a ausência de disciplinas específicas sobre o assunto e a falta de possibilidade de participação em programas de iniciação científica. Seria muito bom se a relação do professor com a pesquisa não se restringisse ao papel de fornecer dados que contribuirão para o trabalho de outros pesquisadores.

Quatro escolas não possuem espaços adequados para atividades dessa natureza. Uma dessas escolas, além desse incentivo financeiro para graduação, oferece um complemento salarial aos contratados que desenvolvem projetos de pesquisa. Em 48 dos 70 entrevistados, foi possível identificar um ressentimento em relação à ausência de qualquer evidência de formação para a pesquisa nos cursos de graduação.

O estudo dos documentos coletados e, principalmente, das entrevistas realizadas, conseguimos reunir um valioso conjunto de informações sobre o alcance da prática da pesquisa no ensino fundamental. Para as entrevistas, foram selecionados professores de diversas áreas do currículo que, segundo a indicação dos coordenadores, provavelmente estariam realizando atividades de pesquisa.

A possível articulação entre ensino e pesquisa no trabalho do professor da educação básica é algo que há algum tempo vem merecendo atenção. Desde a década de 90, o tema “professor pesquisador” ganhou espaço no cenário da discussão acadêmica.

O primeiro ponto refere-se ao risco que corre hoje a formação de futuros professores na universidade, se os cursos ali oferecidos se concentrarem predominantemente no exercício de uma reflexão de caráter pessoal, particular, sobre a própria prática do estudante, futuro professor, num esforço subjetivo e isolado do contexto em que se dará essa prática.

Objetivo

considerando as três etapas que o constituem:

1. a visão de professores da educação básica sobre a pesquisa e sua preparação para exercê-la, bem como as condições e os estímulos para a sua realização;

2. a opinião de professores da universidade responsáveis pela formação desses professores sobre a importância, a necessidade e a viabilidade da pesquisa, tanto na formação quanto no trabalho do futuro professor, abordando, ainda, os dispositivos empregados pela sua universidade na formação dos licenciandos como futuros pesquisadores;^

3. a proposta de investigar a posição dos que decidem sobre pesquisa, uma etapa do estudo em pleno andamento, buscando divisar os elementos levados em conta por essas pessoas. Como conclusão, são apresentadas algumas reflexões acerca da situação atual da pesquisa em educação e o desafio da formação de professores, evidenciando a importância de aproximar a pesquisa em educação das duas realidades que lhe dizem respeito: a da universidade e a da escola de educação básica.

A PESQUISA E OS QUE DECIDEM SOBRE ELA

A pesquisa docente tem crescido e ocupado cada vez mais espaço na literatura. A questão da própria identidade da pesquisa do professor da educação básica permanece, no entanto, bastante obscura. Mas quando se trata de garantir as condições que permitem ao professor exercer esta importante função, ergue-se uma barreira quase intransponível.

A pesquisa docente tem crescido e ocupado cada vez mais espaço na literatura. A questão da própria identidade da pesquisa do professor da educação básica permanece, no entanto, bastante obscura. Mas quando se trata de garantir as condições que permitem ao professor exercer esta importante função, ergue-se uma barreira quase intransponível.

A pesquisa-ação ou pesquisa colaborativa tem sido apontada como uma alternativa viável, como opção metodológica para o docente desenvolver atividade de pesquisa. comuns à pesquisa-ação recaem, justamente, no risco de diminuir o nível de exigência acadêmica. A dificuldade enfrentada pelo pesquisador em desenvolver sua análise com objetividade e rigor constitui também um obstáculo ao sucesso do trabalho investigativo.

"É bom saber quais itens, características, elementos são levados em consideração por quem julga, quem decide se o trabalho merece ou não o título de pesquisa e o que lhe é atribuível" "Nosso trabalho visa, assim, contribuir para revelando a cultura de pesquisa dominante entre nós"

As pesquisas realizadas na universidade não se caracterizam, em geral, por uma clara preocupação com os problemas da escola básica. Na universidade, a preocupação é mais evidente no discurso do que na prática. Isso efetivamente continua priorizando a formação do bacharelado como a de um pesquisador.

Os cursos de formação de professores têm sofrido as conseqüências de um defeito congênito de sua constituição: a separação entre teoria e prática colocando, em geral, em posição precedente a teoria, vindo a prática sempre depois, por meio de estágios de duração insuficiente e, sobretudo, de concepção precária.

A reflexão é uma estratégia que pode servir para que os professores problematizem, analisem, critiquem e compreendam suas práticas. No entanto, reflexão não é sinônimo de pesquisa e o professor que reflete sobre sua própria prática pode produzir conhecimento sem necessariamente ser pesquisador.^

Em outras palavras, a formação
para a pesquisa tal como acontece, quando acontece, tende a gerar nos professores representações sobre a pesquisa impregnadas pela conotação acadêmica, não deixando muito espaço, nem estofo, para o desenvolvimento de
concepções paralelas mais amplas, que permitam abrigar o trabalho voltado para
questões diárias das escolas, sem abrir mão, entretanto, dos cuidados que
devem nortear toda forma de pesquisa.

A pesquisa foi considerada importante e necessária para dar conta da atualização profissional dos professores. A falta de recursos específicos, o tempo docente, a inadequação das estruturas e a ausência de agências de fomento são as principais dificuldades apontadas. Em um contexto em que há falta de professores em sala de aula, os orçamentos quase não suportam o pagamento de professores que têm a missão exclusiva de ensinar.

A formação para a pesquisa tem sido realizada, predominantemente, por iniciativa de alguns professores universitários. Isso se manifesta principalmente por convites aos alunos para participarem de seus grupos de pesquisa, monitorias, pesquisas de campo para subsidiar o trabalho de conclusão de sua disciplina. À medida que os alunos aproveitam as possibilidades criadas, familiarizam-se com diversos aspectos que envolvem uma atividade de pesquisa.

A pesquisa pode representar um componente adicional na formação de professores. Pode dar ao professor uma excelente condição para o exercício de uma atividade criativa e crítica. Mas é preciso vencer obstáculos, sendo um deles a própria formação docente. Como formar práticos, reflexivos, capazes de analisar, de teorizar sobre suas ações e, mais do que isso, de pesquisar.

A pesquisa é um dos componentes básicos da nova proposta de formação. A ambiguidade em torno do conceito de pesquisa observada entre nossos entrevistados na primeira etapa, professores do ensino médio, aparece de alguma forma entre seus formadores. Encontramos visões que vão desde as mais amplas, em que qualquer tipo de investigação pode ser considerada pesquisa, até as extremamente restritas.

A predominância de uma visão estritamente clássica da pesquisa limita a possibilidade de sua realização por professores do ensino fundamental. Para que a pesquisa desses professores seja reconhecida socialmente, é necessário ampliar o conceito de pesquisa tradicionalmente utilizado pela academia Cochran-Smith. Os critérios propostos visam formas de validar e publicar trabalhos de pesquisa mais integrados à realidade da vida escolar.

A PESQUISA E OS FORMADORES DE PROFESSORE

Os professores dos cursos de graduação devem cumprir as espinhosas responsabilidades envolvidas nesse esforço. Sobre eles recaem as repercussões das novas propostas legislativas, a partir de disputas internas nas instituições de formação. Dos típicos confrontos entre disciplinas com conteúdos específicos e conteúdos pedagógicos, da clássica indefinição do equilíbrio adequado entre formação teórica e prática, entre outras.

O estudo buscou focalizar a visão desses profissionais formadores. Buscou-se saber como eles veem os principais problemas em seu trabalho de formação do futuro professor como pesquisador e como eles, e seus colegas, têm enfrentado esses problemas

Foram entrevistados professores dos cursos de licenciatura das duas universidades públicas às quais estavam vinculadas duas escolas básicas do estudo anterior. Seguiram um roteiro bem estruturado, porém flexível, que abarcou quatro eixos básicos. A partir dos contatos iniciais com os coordenadores, chegamos aos professores que gostaríamos de contemplar: professores de disciplinas básicas, de disciplinas específicas para a licenciatura e de disciplinas pedagógicas.ópico

Os cursos de licenciatura têm sido alvo de intensos debates no cenário educacional, dadas as limitações que cercam sua estruturação. refere-se à estrutura 3+1, que reforça a predominância da formação de conteúdo em relação à formação pedagógica. A solução para os problemas que permeiam a ação docente é definida pela teoria, simplesmente aplicando-a.

A tradição de pesquisa da universidade mais experiente é predominantemente limitada aos cursos de bacharelado, com pouco alcance aos alunos de licenciatura. O que não é o caso dos mais novos, cuja experiência com a pesquisa evoluiu e se estendeu a todos os seus cursos, inclusive os de licenciatura.^

Cerca de um quarto dos novos professores não tem experiência docente em estabelecimentos de ensino básico. O mesmo se pode dizer da maioria (cerca de um quarto) que declara não ter lecionado em estabelecimento de ensino básico. Os novos professores serão treinados em uma variedade de disciplinas, incluindo inglês, matemática e ciências.

As questões focalizadas no segundo eixo do roteiro, sobre a importância, a necessidade e a viabilidade da pesquisa na formação e no trabalho do
professor, foram respondidas por nossos entrevistados de maneira bastante
uniforme. Quase todos declararam que a pesquisa é muito importante e necessária, tanto nas instituições de preparação, quanto nas de exercício do magistério. Uma análise mais detalhada das respostas mostra, entretanto, certas
nuanças nas afirmações recolhidas, revelando posições dúbias a respeito do
próprio conceito ou do tipo de pesquisa mais apropriado ao magistério na escola básica. Alguns chegaram até a estabelecer diferenças claras entre a pesquisa
“científica”, feita com rigor e precisão de laboratório na universidade, e aquela
possível de ser realizada pelo professor em sua escola, especialmente na rede
pública. Com relação à viabilidade da pesquisa aí realizada, as respostas dos
nossos entrevistados são ainda mais céticas, talvez com base na percepção que têm da vida na escola de educação básica, pela sua própria experiência docente, e também pelo do contato com os licenciandos que já lecionaópico

Os docentes reconhecem que para favorecer a formação para a pesquisa é necessário que ela seja assumida como princípio básico na proposta curricular. Diferentemente disso, a pesquisa acaba sendo mais trabalhada apenas com alunos que possuem bolsa de iniciação científica. Para aqueles que pretendem se tornar professores, a iniciação científica ainda não aparece como parte integrante e indispensável do curso de formação.

A monografia, ou trabalho de conclusão de curso, também foi mencionada por quase todos os entrevistados, nem todos favoravelmente. Alguns consideram a monografia como um obstáculo que atrasa a conclusão do curso, pois muitos alunos não conseguem cumpri-lo satisfatoriamente Outros defendem que é uma tentativa de aproximar o aluno da atividade de pesquisa.

A universidade mais antiga tem uma clara tradição de pesquisa. Seu contexto institucional é fortemente marcado pela produção do conhecimento científico. A segunda universidade possui larga experiência na formação de professores, condição decisiva para a realização do relatório de pesquisa. As graduações oferecidas pelas instituições investigadas fazem parte do contexto descrito, apesar da posição crítica de nossos entrevistados.

LÜDKE, Menga; CRUZ,Giseli Barreto da. Aproximando Universidade e Escola de Educação Básica pela Pesquisa.Cadernos de Pesquisa, v. 35, n. 125, maio/ago. 2005. Disponível em: cp125a07.pmd (ufu.br). Acesso em: 24 de Set. 2022.

Universidade Federal De Uberlândia /UFU
Faculdade De Educação- CEAD
Curso De Licenciatura Em Pedagogia/EAD
Disciplina: Projeto interdisciplinar III
Tutora: Luciana Rabelo
Discente: Zulene Felipe Da Silva