Puerpério

Puerpério Normal

Conceito e Duração

Definição

Período após o parto durante o qual o corpo da mulher retorna ao estado pré-gravídico e passa por uma recuperação física e emocional.

Duração

Geralmente 6 a 8 semanas. Algumas funções, como a amamentação, podem influenciar a duração total.

Classificação

Puerpério Imediato

Primeiras 24 horas após o parto, período crítico para a hemostasia e estabilização materna.

Puerpério Mediato/Tardio:

Do 2º dia ao 10º dia pós-parto, período de maior risco para infecções e complicações hemorrágicas.

Puerpério Tardio

Do 11º dia até a normalização dos ciclos menstruais (45 dias) (6 a 8 semanas para lactantes).

Pode se estender até 12 meses em alguns casos.

Modificações Anatômicas e Fisiológicas

Involução Uterina

É a redução do taanho do útero para o estado pré-gravídico

Mecanismo

Contração das fibras musculares uterinas, que reduz o tamanho do útero.

Loquiação

Secreção vaginal pós-parto, que passa por três fases: loquiação rubra (sangue), loquiação serosa (rosa ou marrom claro), e loquiação alba (amarela ou branca).

Tempo

O útero retorna ao tamanho normal em cerca de 6 semanas.

Exame Físico

Avaliar o tônus e a tamanho do utero

Alterações no Colo Uterino

Fechamento do Orifício Interno: O colo do útero começa a se fechar logo após o parto, retornando gradualmente ao seu estado pré-gravídico.

Recuperação da Tonicidade: O colo uterino recupera sua consistência firme ao longo das semanas pós-parto.

Alterações Sanguíneas e Plasmáticas

Hemoglobina e Hematócrito: Níveis de hemoglobina e hematócrito começam a se normalizar após o parto.

Leucocitose: Contagem de leucócitos aumenta como resposta inflamatória ao parto, retornando ao normal em poucos dias.

Plaquetocitose: Aumento da contagem de plaquetas para auxiliar na coagulação durante e após o parto.

Sistema Endócrino

Hormônios Gonadotróficos

Níveis de hCG diminuem rapidamente após o parto.

Esteroides Sexuais

Queda rápida dos níveis de estrogênio e progesterona após a expulsão da placenta.

Prolactina

Mantém-se elevada durante a amamentação, inibindo a ovulação e regulando a produção de leite.

Alterações Dermatológicas

Estrias Gravídicas

Ruptura das fibras elásticas da pele, resultando em estrias, que podem clarear com o tempo.

Cloasma

Manchas escuras na pele, frequentemente no rosto, que muitas vezes desaparecem após o parto.

Eflúvio Telógeno

Queda de cabelo pós-parto devido à diminuição dos níveis hormonais, geralmente temporária.

Sistema Urinário

Edema da Mucosa Vesical

Inchaço da mucosa da bexiga devido ao trauma do parto e ao uso de cateteres.

Dilatação do Sistema Pielocalicial

Dilatação renal pode persistir por várias semanas, aumentando o risco de infecções urinárias.

Alterações Cardiovasculares

Redução do Volume Sanguíneo

Normalização gradual do volume sanguíneo aumentado durante a gravidez.

Alterações na Pressão Arterial

Normalização da pressão arterial

Alteraçãos Renais

Aumento da Diuerese

Eliminação do excesso de fluido acumulado durante a gravidez.

Função Renal

Retorno à normalidade.

Alterações Mamárias

Lactogênese

Início da produção de leite nos primeiros dias pós-parto.

Galactopoiese

Manutenção da produção de leite ao longo do tempo.

Cuidados com a Lactação

Benefícios da Amamentação

Involução Uterina

Amamentação estimula a liberação de ocitocina, acelerando a involução uterina.

Nutrição do Bebê

Fornece nutrientes essenciais e anticorpos, promovendo o desenvolvimento saudável do bebê.

Vínculo Mãe-bebê

Fortaleciento do aço afetivo

Nutrição Materna

Calorias Adicionais

Necessidade de uma dieta equilibrada com calorias adicionais (cerca de 500 calorias extras por dia) para suportar a produção de leite.

Hidratação

Importância de manter a hidratação adequada para a produção de leite, recomendando-se cerca de 3 litros de líquidos por dia.

Aspectos Psicológicos

Ajuste Emocional

Mudanças Hormonais

Impacto das mudanças hormonais no humor e nas emoções, como a queda dos níveis de estrogênio e progesterona.

Suporte Social

Importância do suporte de familiares e amigos para o bem-estar emocional da mãe.

Cuidados Gerais no Puerpério

Higiene Pessoal

Cuidados com a Área Perineal

Limpeza e cuidados para evitar infecções.

Banhos Diários

Manutenção da higiene geral.

Alimentação

Dieta Balanceada

Alimentação rica em nutrientes para recuperação e produção de leite.

Hidratação

Importância da ingestão adequada de líquidos.

Atividades Físicas

Exercícios Leves

Caminhadas e exercícios leves após liberação médica

Evitar Esforço Físico Intenso

Nas primeiras semanas para permitir a recuperação.

Puerpério Patológico

Morbidade Febril Puerperal

Definição e Critérios Diagnósticos

Causas Comuns

Infecção Urinaria

Pneumonia Puerperal

Endometrite puerperal

Mastite

Fatores de Risco

Cesárea

Maior risco de infecção.

Ruptura Prolongada de Membranas

Exposição prolongada ao ambiente.

Manipulações Obstétricas

Procedimentos invasivos durante o parto.

Infecções Puerperais

Endometrite

Fatores de Risco

Cesárea, trabalho de parto prolongado, múltiplos exames vaginais, ruptura prolongada de membranas.

Microbiologia

Comumente causada por bactérias anaeróbias e facultativas, como Escherichia coli, Streptococcus e Staphylococcus.

Sintomas

Febre, dor abdominal, secreção vaginal purulenta e fétida, sensibilidade uterina.

Tratamento

Antibióticos de amplo espectro (clindamicina e gentamicina), drenagem de abscessos se necessário.

Mastite

Causas

Fissuras mamilares, ductos lactíferos obstruídos, má pega do bebê.

Patógenos Comuns

Staphylococcus aureus, Escherichia coli.

Sintomas

Febre alta, calafrios, dor intensa, vermelhidão e calor na mama afetada, endurecimento local.

Tratamento

Antibióticos (dicloxacilina, cefalexina), continuação da amamentação ou extração de leite manual, compressas quentes.

Infecção do Trato Urinário

Fatores de Risco

Cateterização, trauma uretral durante o parto, retenção urinária pós-parto.

Sintomas

Disúria, urgência urinária, febre, dor suprapúbica, hematúria.

Tratamento

Antibióticos (nitrofurantoína, ciprofloxacina), hidratação adequada, analgesia se necessário.

Complicações Hemorrágicas

Hemorragia Pós-Parto (HPP)

Definição

Perda de mais de 500 ml de sangue após parto vaginal ou 1000 ml após cesárea.

Causas

Atonia uterina, retenção de produtos placentários, traumas no canal de parto, coagulopatias.

Diagnóstico

Exame físico, ultrassonografia para detectar retenção placentária, monitoramento dos sinais vitais.

Tratamento

Primeira Linha

Massagem uterina, medicamentos uterotônicos (ocitocina, misoprostol), administração de fluidos intravenosos.

Intervenção

Transfusão sanguínea, tamponamento uterino (balão de Bakri), procedimentos cirúrgicos como ligadura de artérias uterinas ou histerectomia em casos graves.

Atonia Uterina

Fatores de Risco

Trabalho de parto prolongado, parto múltiplo, polidrâmnio, anestesia geral.

Tratamento

Massagem uterina vigorosa, administração de uterotônicos (ocitocina, ergometrina), uso de agentes antifibrinolíticos (ácido tranexâmico), intervenção cirúrgica se necessário.

Tromboembolismo

Trombose Venosa Profunda (TVP)

Fatores de Risco

Imobilização prolongada, história prévia de TVP, cesárea, obesidade, trombofilias hereditárias.

Sintomas

Edema unilateral, dor, calor na panturrilha, sinal de Homans positivo.

Diagnóstico

Ultrassonografia Doppler, níveis de D-dímero elevados.

Tratamento.

Anticoagulantes (heparina, varfarina), uso de meias de compressão, mobilização precoce

Embolia Pulmonar (EP)

Sintomas

Dispneia súbita, dor torácica, taquicardia, hemoptise.

Diagnóstico

Angiotomografia computadorizada (angio-TC), cintilografia pulmonar

Depressão Pós-Parto

Prevalência

Afeta aproximadamente 10-15% das mulheres.

Sintomas

Incluem tristeza intensa, irritabilidade, ansiedade, fadiga extrema, perda de interesse em atividades e dificuldade em se conectar com o bebê.

Tratamento

Terapia cognitivo-comportamental, medicação antidepressiva (como inibidores seletivos da recaptação de serotonina), e suporte social.

Psicose Puerperal

Raridade: Acontece em 0,1-0,2% dos partos.

Sintomas

Alucinações, delírios, comportamento desorganizado, risco de autoagressão ou agressão ao bebê.

Tratamento

Hospitalização imediata, antipsicóticos, terapia eletroconvulsiva em casos graves, apoio psiquiátrico contínuo.

Diferença

No patológico há complicações e condições que desviam do curso normal de recuperação pós-parto