Ler o Mundo

Tudo é leitura

Tudo é decifração. Ou não.

Ou não, porque nem sempre
deciframos os sinais à nossa frente.

Paixão de ler. Ler a paixão

Como ler a paixão se a paixão é
quem nos lê?

Na paixão somos lidos à nossa
revelia .
O corpo é um texto. Há que saber

interpretá-lo. Alguns corpos, no

entanto, vêm em forma de

hieroglifo, dificílimos.

Movido pelo amor, pela paixão
pode o corpo falar idiomas que
antes desconhecia.

Semiologia

Ciência da leitura dos sinais. Dos
sintomas

O médico até que se parece com o
amante. Ele também lê o corpo

Daí partiu Freud, para ler o interior,
o invisível texto estampado no
inconsciente.

Diz-se que Marx pretendeu ler o
inconsciente da história e descobrir
os mecanismos que nela estavam

escritos/inscritos.

Leitura Total

Só uma leitura não parcial, não
esquizofrênica do real pode nos
ajudar na produtividade dos

significados.

Tópico principal

Tópico principal

Tópico principal

Tudo é texto. Tudo é narração.

O astrônomo lê o céu, lê a epopeia das estrelas. Ora, direis,
ouvir & ler estrelas. Que estórias sublimes, suculentas, na Via
Láctea. O físico lê o caos. Que epopéias o geógrafo lê nas

camadas acumuladas num simples terreno.

Um desfile de carnaval, por exemplo, é um texto. Por isto se
fala de “samba enredo”. Enredo além da história pátria
referida. A disposição das alas, as fantasias, a bateria, a

comissão de frente são formas narrativas.

Ler, então, é um jogo. Uma
disputa, uma conquista de
significados entre o texto e o leitor
.

Uma partida de futebol é uma forma
narrativa. Saber ler uma partida - este o
mérito do locutor esportivo, na verdade, um

leitor esportivo. Ele, como o técnico, vê

coisas no texto em jogo, que só depois de

lidas por ele, por nós são percebidas.

Um espetáculo de dança é
narração. Uma exposição de artes
plásticas é narração. Tudo é

narração. Até o quadro “Branco

sobre o branco” de Malevich conta

uma estória.

Não é só quem lê um livro, que lê.

Um paisagista lê a vida de maneira florida e sombreada.
Fazer um jardim é reler o mundo, reordenar o texto
natural. A paisagem, digamos, pode ter "sotaque", assim

como tem sabor e cheiro. Por isto se fala de um jardim

italiano, de um jardim francês, de um jardim inglês.

Analfabetismo tecnológico.

Estamos com vários problemas de leitura hoje.
Construimos sofisticadíssimos aparelhos que sabem
ler. Eles nos lêem. Nos lêem, às vezes, melhor que nós

mesmos. E mais: nós é que não os sabemos ler. Isto se

dá não apenas com os objetos eletrônicos em casa ou

com os aparelhos capazes de dizer há quantos

milhões de anos viveu certa bactéria. Situação

paradoxal: não sabemos ler os aparelhos que nos

lêem.

A gente vive falando mal do analfabeto. Mas o
analfabeto também lê o mundo. Às vezes,
sabiamente. Em nossa arrogância o

desclassificamos . Mas Levi-Strauss ousou dizer que

algumas sociedades iletradas eram ética e

esteticamente muito sofisticadas. E penso que

analfabeto é também aquele que a sociedade

letrada refugou. De resto, hoje na sociedade

eletrônica, quem não é de algum modo analfabeto?

Estamos com vários problemas de leitura hoje.
Construimos sofisticadíssimos aparelhos que sabem
ler. Eles nos lêem. Nos lêem, às vezes, melhor que nós

mesmos. E mais: nós é que não os sabemos ler. Isto se

dá não apenas com os objetos eletrônicos em casa ou

com os aparelhos capazes de dizer há quantos

milhões de anos viveu certa bactéria. Situação

paradoxal: não sabemos ler os aparelhos que nos

lêem.