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NO TEMPO EM QUE NORMALISTAS PRECISAVAM SABER ESTATÍSTICA Wagner Rodrigues Valente

Durante a década de 1950, a formação de normalistas e professores de Matemática era um tema de grande importância no Brasil, especialmente no Estado de São Paulo. O livro didático '

NO TEMPO EM QUE NORMALISTAS PRECISAVAM SABER ESTATÍSTICA
Wagner Rodrigues Valente

aluna: Helanne Vieira Saraiva

NO TEMPO EM QUE NORMALISTAS PRECISAVAM SABER ESTATÍSTICA Wagner Rodrigues Valente

Osvaldo Sangiorgi e a Cia. Editora Nacional: a construção de um programa de Matemática e de um best-seller didático para normalistas.

As propostas de novos programas, nova organização do ensino de Matemática estavam ligadas diretamente à produção didática. As lideranças desses encontros, em boa medida, eram autores de livros didáticos de Matemática
Certamente a partir de sua experiência didático-pedagógica com a educação matemática de normalistas, Sangiorgi motivou-se a elaborar uma de suas primeiras publicações pela Companhia Editora Nacional: o livro “Matemática e Estatística”, obra destinada aos institutos de educação e escolas normais.
Sangiorgi foi assíduo colaborador da Atualidades Pedagógicas, como mostram os documentos de seu arquivo pessoal. Suas contribuições com artigos incluem o período de 1954 a 1960. Em todos os seus textos a tônica é a discussão dos programas de ensino de Matemática, o que diretamente irá refletir-se na divulgação de suas obras didáticas.
Sangiorgi nasceu no dia 9 de maio de 1921. Sua formação inclui a licenciatura em Ciências Matemáticas, em 1941, conforme consta em seu diploma, outorgado pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, Seção de Educação, da Universidade de São Paulo

A Companhia Editora Nacional e os livros didáticos de Matemática

produção e distribuição de livros, a Nacional dedicou especial atenção às obras didáticas, com agressiva estratégia de divulgação. Um exemplo disso, é trazido pela análise de Dutra relativamente ao estudo que fez do Catálogo de Livros Escolares de 1936
O surgimento da Nacional inaugurou uma nova fase no mercado editorial brasileiro
os livros didáticos de Matemática, desde a criação dessa disciplina, através da Reforma Francisco Campos, a Nacional teve autores de grande sucesso na elaboração desses textos. Uma referência desse período foi o professor Jacomo Stávale.
Até a década de 1920, a referência-maior para a produção de livros didáticos das diferentes disciplinas, inclusive a Matemática, era o Rio de Janeiro
A Nacional se transformou na maior editora do Brasil, voltando seus negócios para os livros escolares. Em um rápido processo de expansão, a Editora ganhou maior especialização em seu funcionamento interno, chamando profissionais ligados às áreas de editoração, artes gráficas e contabilidade.

Os anos 1950: o tempo das normalistas e dos professores de Matemática

Esse era um tempo em que o bom professor, reconhecido e propagandeado pelas conquistas de seus alunos, tinha status social de profissional liberal.
Osvaldo Sangiorgi era exemplo emblemático daqueles professores excelentes, disputados a peso de ouro pelas famílias abastadas paulistanas, para dar aulas particulares de Matemática a seus filhos.
No ano de 1955, por exemplo, foram diplomados nas Escolas Normais, mais de sete mil professores, havendo vagas no magistério apenas para menos de dois mil. Isso estabeleceu uma disputa enorme para ingresso na profissão
A década de 50 presenciou uma grande expansão do ensino secundário e normal.

A análise do sucesso do livro “Matemática e Estatística” revelou alguns dos principais ingredientes que levavam um livro didático a dezenas de edições, com milhares de exemplares: autoridade matemática do autor a partir de sua formação acadêmica; carisma como professor de Matemática em escolas de referência; reconhecimento de sua eficiência como professor particular na preparação de alunos às provas e exames; inserção do autor no debate sobre formulação de programas de Matemática; proximidade do com autoridades educacionais responsáveis pela definição oficial dos programas; inovadora estratégia de divulgação dos livros pela Cia. Editora Nacional.

Sobre o papel da Estatística na formação do normalista é possível dizer que ele está em conformidade com a herança deixada pelos anos da Era Vargas: a constituição de uma identidade nacional, que exacerbou as suas pretensões após a Revolução de 1930, com a instalação do Estado Novo
. Um de seus componentes principais foi o saber estatístico. Nele estavam depositadas as expectativas da produção atualizada e constante de uma radiografia da educação brasileira, que serviria de base para as políticas públicas

A Estatística no livro didático para a formação de normalistas

O trabalho com os conteúdos estatísticos na obra procurou incorporar sempre exemplos e exercícios relacionados à Educação. Assim, o trabalho com distribuições estatísticas apresentou exemplos do Departamento de Estatística de São Paulo no que diz respeito à população no Estado, ao analfabetismo nas Américas, à composição demográfica no Rio de Janeiro, dentre outros.
A Portaria No. 49, de 4/12/1954, baixada pelo Departamento de Educação, que estabeleceu os conteúdos de “Aritmética Prática”, “Geometria Prática” e “Noções de Estatística” para a formação matemática dos normalistas
O livro “Matemática e Estatística” foi elaborado tendo em conta as articulações de seu autor junto às instâncias oficiais de educação do Estado de São Paulo.

Estatística: um saber para a construção do educador profissional no Brasil

Em 1934 foi criado o Instituto Nacional de Estatística, origem do IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que passa a funcionar a partir de 1938.
A estatística aplicada à educação teve dois objetivos básicos, algumas vezes simultâneos: diagnosticar e formular as políticas do estado com relação aos ‘fenômenos tipicamente coletivos’ e, associada à Psicologia Educacional, servir como suporte à classificação dos alunos, detendo-se na descrição das ‘variações’ e ‘desvios’ dos indivíduos no grupo.
além do levantamento estatístico, da obtenção dos mapas, das bases numéricas, a Estatística passou a ser vista como um conhecimento importante para a formação dos professores. Um saber que melhoraria a sua condição docente e, ainda, um conteúdo que abriria novas portas profissionais.
A elevação da Estatística como conhecimento fundamental da educação brasileira tem sua forma mais organizada nos anos 1930