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por gabriel souza 2 anos atrás

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Ler o Mundo

A leitura vai além dos livros, abrangendo diversas formas de interpretar o mundo. Um paisagista enxerga a vida através das flores e sombras, recriando a natureza. A paixão, por sua vez, é um idioma que o corpo fala, sendo ele mesmo um texto a ser decifrado.

Ler o Mundo

Ler o Mundo

Analfabetismo tecnológico.

Estamos com vários problemas de leitura hoje. Construimos sofisticadíssimos aparelhos que sabem ler. Eles nos lêem. Nos lêem, às vezes, melhor que nós mesmos. E mais: nós é que não os sabemos ler. Isto se dá não apenas com os objetos eletrônicos em casa ou com os aparelhos capazes de dizer há quantos milhões de anos viveu certa bactéria. Situação paradoxal: não sabemos ler os aparelhos que nos lêem.
A gente vive falando mal do analfabeto. Mas o analfabeto também lê o mundo. Às vezes, sabiamente. Em nossa arrogância o desclassificamos . Mas Levi-Strauss ousou dizer que algumas sociedades iletradas eram ética e esteticamente muito sofisticadas. E penso que analfabeto é também aquele que a sociedade letrada refugou. De resto, hoje na sociedade eletrônica, quem não é de algum modo analfabeto?

Não é só quem lê um livro, que lê.

Um paisagista lê a vida de maneira florida e sombreada. Fazer um jardim é reler o mundo, reordenar o texto natural. A paisagem, digamos, pode ter "sotaque", assim como tem sabor e cheiro. Por isto se fala de um jardim italiano, de um jardim francês, de um jardim inglês.

Tudo é texto. Tudo é narração.

O astrônomo lê o céu, lê a epopeia das estrelas. Ora, direis, ouvir & ler estrelas. Que estórias sublimes, suculentas, na Via Láctea. O físico lê o caos. Que epopéias o geógrafo lê nas camadas acumuladas num simples terreno.
Ler, então, é um jogo. Uma disputa, uma conquista de significados entre o texto e o leitor.

Uma partida de futebol é uma forma narrativa. Saber ler uma partida - este o mérito do locutor esportivo, na verdade, um leitor esportivo. Ele, como o técnico, vê coisas no texto em jogo, que só depois de lidas por ele, por nós são percebidas.

Um espetáculo de dança é narração. Uma exposição de artes plásticas é narração. Tudo é narração. Até o quadro “Branco sobre o branco” de Malevich conta uma estória.

Um desfile de carnaval, por exemplo, é um texto. Por isto se fala de “samba enredo”. Enredo além da história pátria referida. A disposição das alas, as fantasias, a bateria, a comissão de frente são formas narrativas.

Tópico principal

Leitura Total

Só uma leitura não parcial, não esquizofrênica do real pode nos ajudar na produtividade dos significados.

Semiologia

Diz-se que Marx pretendeu ler o inconsciente da história e descobrir os mecanismos que nela estavam escritos/inscritos.
Daí partiu Freud, para ler o interior, o invisível texto estampado no inconsciente.
O médico até que se parece com o amante. Ele também lê o corpo
Ciência da leitura dos sinais. Dos sintomas

Paixão de ler. Ler a paixão

Movido pelo amor, pela paixão pode o corpo falar idiomas que antes desconhecia.
Na paixão somos lidos à nossa revelia . O corpo é um texto. Há que saber interpretá-lo. Alguns corpos, no entanto, vêm em forma de hieroglifo, dificílimos.
Como ler a paixão se a paixão é quem nos lê?

Tudo é leitura

Tudo é decifração. Ou não.
Ou não, porque nem sempre deciframos os sinais à nossa frente.