por Vanessa Pires 13 anos atrás
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- O poder imperativo e proibitivo conjunto dos paradigmas, das crenças oficiais, das doutrinas reinantes e das verdades estabelecidas determina os estereótipos cognitivos, as ideias recebidas sem qualquer análise, as crenças estúpidas não contestadas, os absurdos triunfantes, a rejeição de evidências em nome da evidência, e faz reinar em toda parte os conformismos cognitivos e intelectuais.
- A selecção sociológica e cultural das ideias raramente obedece à sua verdade; pode, ao contrário, ser implacável na busca da verdade.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
Elimina aquilo que poderia contestar o imprinting cultural e o seu conformismo
O imprinting é um termo proposto por Konrad Lorenz para dar conta da marca indelével imposta pelas primeiras experiências do animal recém-nascido (como ocorre com as crias dos passarinhos que, ao saírem do ovo, seguem o primeiro ser vivo que passe por eles, como se fosse a sua mãe), o que Andersen já nos havia contado à sua maneira na história d’ O patinho feio.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
Marca os humanos desde o nascimento com diferentes "selos"
Universidade e / ou vida profissional
Cultura escolar
Cultura familiar
Marca matricial que inscreve o conformismo a fundo
Tecnoburocratização do trabalho
Especialização
Divisão de classes
Hierarquia
Poder
Devem ajudar e orientar estratégias cognitivas que são dirigidas por sujeitos humanos
Devem ser relativizadas e domesticadas
Não devem ser apenas instrumentalizadas nem impor o seu veredicto de modo autoritário
Só podemos usá-las bem se soubermos também servi-las
As ideias existem pelo Homem e para ele, mas o Homem existe também pelas ideias e para elas
O surgimento dos mitos, dos deuses, e o extraordinário levante dos seres espirituais impulsionou e arrastou o Homem a delírios, massacres, crueldades, adorações,
êxtases e sublimidades desconhecidas no mundo animal.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
Marx dizia justamente: “Os produtos do cérebro humano têm o aspecto de seres independentes, dotados de corpos particulares em comunicação com os humanos e entre si”.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
Podem possuir-nos!
Somos capazes de matar ou morrer por um deus, por uma ideia!
Tomaram forma, consistência e realidade
- Os mitos tomaram forma, consistência e realidade com base nas fantasias formadas pelos nossos sonhos e pela nossa imaginação.
- As ideias tomaram forma, consistência e realidade com base nos símbolos e nos pensamentos da nossa inteligência.
- Os mitos e as ideias voltaram-se sobre nós, invadiram-nos, deram-nos emoção, amor, raiva, êxtase, fúria.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
São seres mentais que têm vida e poder
São produtos da mente
As coisas novas estão sempre a surgir sem parar e não podemos prever de que forma estas se apresentarão, mas devemos esperar a sua chegada, ou seja, esperar o inesperado (cf. Capítulo V - Enfrentar as incertezas). E quando o inesperado se manifesta, é preciso ser-se capaz de rever as teorias e ideias próprias, em vez de se deixar os factos novos entrarem à força na teoria incapaz de recebê-lo.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
Os metapontos de vista sobre a noosfera só podem ocorrer com a ajuda de ideias complexas, em cooperação com as próprias mentes, em busca dos metapontos de vista para auto-observar-se e conceber-se.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
Estar sempre alerta para tentar detectar a mentira em si mesmo
Tomar consciência do id e do alguém que falam através do ego
Intercâmbio e comunicação entre as diferentes zonas de nossa mente
Negociação e controlo mútuos entre a nossa mente e as nossas ideias
Estar sempre atentos para evitar o Idealismo e a Racionalização
Determina a dupla visão do mundo / desdobramento do mundo
O mundo de sujeitos que se questionam sobre problemas de existência, de comunicação, de consciência, de destino
O mundo de objectos submetidos a observações, experiências, manipulações
É um paradigma, pois determina os conceitos-mestres e prescreve a relação lógica: a disjunção
A desobediência a esta disjunção é considerada um desvio ao paradigma.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
Separa o sujeito e o objecto, cada qual na sua própria esfera
Este paradigma (o "grande paradigma do Ocidente"), formulado por Descartes e imposto pelo descobrimento da história europeia a partir do século XVII, coloca a filosofia e a pesquisa reflexiva de um lado, e a ciência e a pesquisa objectiva de outro. Esta dissociação atravessa o universo de um extremo ao outro:
Sujeito/Objecto
Alma/Corpo
Espírito/Matéria
Qualidade/Quantidade
Finalidade/Causalidade
Sentimento/Razão
Liberdade/Determinismo
Existência/Essência
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
Ambos impedem a:
Concepção da relação, ao mesmo tempo, de implicação e de separação entre o Homem e a Natureza
Somente o paradigma complexo de implicação/distinção/conjugação permitirá tal concepção, mas este ainda não está inscrito na cultura científica.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
Concepção da unidualidade da realidade humana
cerebral <-> psíquica
natural <-> cultural
Ambos os paradigmas obedecem ao Paradigma da Simplificação!
Disjunção entre o Homem e o natural
Redução do Homem ao natural
Paradigma 2
Determina o que há de específico no Homem por exclusão da ideia de natureza
Disjunção entre o Homem e a Natureza
Paradigma 1
Reconhecimento da "natureza humana"
O Homem é um ser natural
Inclusão do Homem na Natureza
Um paradigma pode ser definido por:
• Promoção/selecção dos conceitos-mestres ou categorias fundamentais da inteligibilidade.
Estes conceitos-mestres excluem ou subordinam os conceitos que lhes são opostos: a desordem, o espírito, a matéria, o acontecimento. Assim, o nível paradigmático é o do princípio de selecção das ideias que estão integradas no discurso ou na teoria, ou postas de lado e rejeitadas.
• Determinação das operações lógicas-mestras.
O paradigma está oculto sob a lógica e selecciona as operações lógicas que se tornam, ao mesmo tempo, preponderantes, pertinentes e evidentes sob o seu domínio (exclusão/inclusão, disjunção/conjunção, implicação/negação). É ele que privilegia determinadas operações lógicas em detrimento de outras (ex: a disjunção em detrimento da conjunção) e que atribui validade e universalidade à lógica que elegeu. Por isso mesmo, dá aos discursos e às teorias que controla as características da necessidade e da verdade. Por sua prescrição e proscrição, o paradigma funda o axioma e expressa-se em axioma (“todo o fenómeno natural obedece ao determinismo”, “todo o fenómeno propriamente humano define-se por oposição à natureza...”).
O paradigma desempenha um papel ao mesmo tempo subterrâneo e soberano em qualquer teoria, doutrina ou ideologia. O paradigma é inconsciente, mas irriga o pensamento consciente, controla-o e, neste sentido, é também supraconsciente.
No fundo, o paradigma instaura relações primordiais que constituem axiomas, determina conceitos, comanda discursos e/ou teorias. Organiza a organização deles e gera a geração ou a regeneração.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
Um paradigma pode ao mesmo tempo elucidar e cegar, revelar e ocultar
Determinismo de paradigmas e modelos explicativos
Os indivíduos conhecem, pensam e agem segundo o paradigma culturalmente inscrito neles
Designa as categorias fundamentais da inteligibilidade e controla a apliacação das mesmas
Estrutura -> concepções estruturalistas
Espírito -> concepções espiritualistas
Matéria -> concepções materialistas
Ordem -> concepções deterministas
Faz a selecção e a determinação da conceptualização e das operações lógicas
Começamos a tornar-nos realmente racionais quando reconhecemos a racionalização até na nossa própria racionalidade e reconhecemos os próprios mitos, entre os quais o mito da nossa "razão toda-poderosa" e do "progresso garantido".
Assim, há a necessidade de reconhecer na educação do futuro um princípio de incerteza racional: a racionalidade corre um risco constante, devendo manter uma vigilante autocrítica para não cair na ilusão racionalizadora.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
É uma grande fonte de erros e ilusões
Constitui um sistema lógico perfeito, mas fundamenta-se em bases mutiladas ou falsas
Fecha-se sobre si mesma, numa doutrina racionalizadora, que obedece a um modelo mecanicista e determinista para considerar o mundo
É uma racionalidade distorcidada, fechada à verificação empírica e a refutações/críticas que ponham a nu os seus erros
A racionalidade não é monopólio da civilização ocidental!
O ocidente europeu acreditou, durante muito tempo, ser proprietário da racionalidade, vendo apenas erros, ilusões e atrasos nas outras culturas, e julgava qualquer cultura sob a medida do seu desempenho tecnológico.
Entretanto, devemos saber que em qualquer sociedade, mesmo arcaica, há racionalidade na elaboração de ferramentas, na estratégia da caça, no conhecimento das plantas, dos animais, do solo, ao mesmo tempo em que há mitos, magia e religião.
Nas sociedades ocidentais também existem mitos, magia, religião, inclusive o mito da razão providencial e uma religião do progresso.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
É fruto do debate argumentado das ideias, e não a propriedade de um sistema de ideias
Não é apenas teórica, apenas crítica, mas também é autocrítica.
Recorre à lógica e à verificação empírica
É um dispositivo de diálogo entre a ideia com o real
A racionalização impede este mesmo diálogo.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
É a melhor protecção contra o erro e a ilusão
A actividade racional da mente permite:
No fundo, a racionalidade tem uma acção corretiva.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
Racionalidade construtiva e Racionalidade crítica
A racionalidade construtiva elabora teorias coerentes, verificando o caráter lógico da organização teórica, a compatibilidade entre as ideias que compõem a teoria, a concordância entre suas proposições e os dados empíricos aos quais se aplica.
Esta racionalidade deve permanecer aberta a contestações/refutações para evitar que se feche numa doutrina e se converta em Racionalização.
A racionalidade crítica é exercida particularmente sobre os erros e ilusões das crenças, doutrinas e teorias.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
Resistência à informação que não lhes convém ou que não podem assimilar
Doutrinas
São invulneráveis a qualquer crítica que denuncie os seus erros
Estão absolutamente convencidas da sua verdade
São teorias fechadas sobre si mesmas
As teorias têm tendência a resistir à agressão de teorias e/ou argumentos contrários
Ainda que as teorias científicas sejam as únicas a aceitar a possibilidade de serem refutadas, tendem a manifestar esta resistência.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
Protegem os erros e ilusões neles inscritos
Estão sujeitos ao erro
A memória é uma fonte insubstituível de verdade, mas também pode estar sujeita aos erros e às ilusões.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
Falsas lembranças
Recalcamento de memórias desfavoráveis
Selecção de memórias favoráveis
Rememoração (reconstrução de memórias)
Desfiguração de memórias / lembranças
Embelezamento de memórias / lembranças
Degradação de memórias
Cada mente é dotada de potencial de mentira para si próprio (self-deception), que é uma fonte permanente de erros e de ilusões.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
Projectar sobre o outro a causa do mal
Necessidade de autojustificação
Egocentrismo
A fantasia e o imaginário no ser humano são de uma importância inimaginável; dado que as vias de entrada e de saída do sistema neurocerebral, que colocam o organismo em conexão com o mundo exterior, representam apenas 2% do conjunto, enquanto 98% se referem ao funcionamento interno, constituiu-se um mundo psíquico relativamente independente, em que fermentam necessidades, sonhos, desejos, ideias, imagens, fantasias, e este mundo infiltra-se na nossa visão ou concepção do mundo exterior.
Fonte: Os sete saberes para a educação do Futuro, de Edgar Morin, Capítulo 1
Subjectividade
Imaginário
Fantasias
Imagens
Ideias
Desejos
Sonhos
Necessidades
Emoções